O artigo que estamos publicando, descreve Parnaíba na visão
de um sertanejo humilde que se encanta com as novidades da cidade na qual está
vivendo, é uma Parnaíba diferente de hoje, mas muito bem retratada na linguagem
simples da gente do Piauí. O artigo se intitula Descrição de Parnaíba e foi
escrita no livro Sertão Alegre de Leonardo Mota e publicada em 1960 a revista O
Cruzeiro. No dia 25 de Novembro foi publicada no jornal o Diário do Povo, pelo
juiz Anchieta Mendes. Agora publico no blog, pois assim
como juiz Anchieta a considero extremamente relevante ao conhecimento do público.
Descrição de Parnaíba
“Mamãe
Parnaíba é uma cidade monarca de grande. Demenhazinha se arvoroça tanta gente na beira do rio qui parece inté
furmiga aredor de lagartixa morta e quase tudo é trabaiadô caçando ganho. O mercado
é outro dispotismo, se arreuni mais povo que na desobriga, quando o padre diz
missa na capela dos Morros de dona Chinquinha. Aqui de tudo se vendo de tudo se
faz dinheiro, fiquei besta de ver gente comprando
maxixe, quiabo, limão azedo, foia de Joaõ –Gome, e inté taiada de jerimum. O passadio
daqui é bom. Todo dia como pãp da cidade com matega do reino.
Mamãe:
As coisas daqui são deferente das daí. As casa são apregadas
uma nas outas qui nem casa de marimbondo, e quase tudo de teia e atejolada e
tem delas causadas e forradas de tapa pro riba, que nem ninho de xexéu que se
chama sobrado. Gente rica aqui é de mazia. inda onte numa loja eu vi uma ruma
de dinheiro de cobre que parecia juá quando se ajunta pro mode da á bode de chiqueiro.
Mamãe:
A igreja daqui fazinté sobroço de grande e arta, cabe dentro dela
todos os moradô da barra das lages da fazenda Nova e se adquire lugar pra mais de
cem vivente. O povo daqui tem uns custumes engraçados: num diz Ô DE CASA, não,
quando chega nacasa alhei patê parma como q1uem estruma cachorro mode acuar
tatu em buraco.
Mamãe, aluz daqui é feita de um gazoma, nun percisa pavil
nem trucida de argodão mode acender é só districer numa torneira como quem tira
cachaça de ancoreita e riscar num fosque que sai luz biatamente, tão quilara que faz gosto. Se o
cristão não acendêr mais qui dipressa, espaia um chero de cebola pôde danada, diz qui pru via
de uma tal cauburente.
Mamãe:
Aqui tem um jogo chamado biá que num hai quem intenda, mas
porem só joga nele genti di famía. É arredo duma mesa grande, forrada com um
pano como um bú de pregaria e o jôgador sigurando umas varas, mode impurrá umas bolas qui é vêr o
ovo de ema. Quando tão jogando dê pro
visto dois maedôr de farinha em forno de barro, ageitando os raodo mode não
dismanchár os bejú. Aqui também tem uma latejo invisive chamado cinema. É só a musca
tocar aparece umas figura de gente e de animá, tudo perfeito mesminho com se
tivesse vivo e bulindo. O cinema é uma pano esticado como vela de embarcação é
a cousa mais bonita que já vi na minha vida.
Mamãe:
Cheguei onte de Tutóia, fui nas barcas da companhia Bussi
mode trabaiá num vapor inguilêz ganhando dois mil rés pro dia e quatro pru
noite. Na Tutóia a gente ve o mar até aonde le incosta nas paredes do céu as barca sacode agente,
chega dá dô de estambe e vontade de gumitar que nem aribú novo tudo pru, via do
desaçocego do mar. O vapô inguilêz é um
paidégua e grande, maior que a vazante de fumo do cumpade Domingu e mais arto eu
o pé de tamarino da porta lá de casa. Os porão de botá carga são tão fundo qui
escurece a vista do cristão que ispia o pessoá qui mora no vapô, são tudo branco ruzungá,
oio azú e cabelo vremeio. A fala deles não ai quem intenda, é impruiada como a
de periquito em rosa de mio novo. São danado pru papagaio e pru cachaça dão
inté roupa de gazemira por um papagaio ou por uma garrafa de giribita. Quanto uns
inguilez fala ums cum os ôtro é uma trapaida direitinho a tia Damiana adizpois
qui foi atacada da molesta do ar. Outra coisa ingraçada qui acho é os inguilez
no vapor tudo se chama de piloto, mode coisa que os padre na terra deles não
btiza ninguém de outro nome. Mamãe: Pru eu lher contar tudo direitinho não hai
papê qui chegue. Vou acaba de lher escrevê pru que já me dói as buneca dos dedo
de tando pagar na pena” Valeu?
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