domingo, 2 de dezembro de 2012

Descrição de Parnaíba



     O artigo que estamos publicando, descreve Parnaíba na visão de um sertanejo humilde que se encanta com as novidades da cidade na qual está vivendo, é uma Parnaíba diferente de hoje, mas muito bem retratada na linguagem simples da gente do Piauí. O artigo se intitula Descrição de Parnaíba e foi escrita no livro Sertão Alegre de Leonardo Mota e publicada em 1960 a revista O Cruzeiro. No dia 25 de Novembro foi publicada no jornal o Diário do Povo, pelo juiz Anchieta Mendes. Agora publico no blog,  pois  assim como juiz Anchieta a considero extremamente relevante ao conhecimento do público.  

Descrição de Parnaíba

 

“Mamãe
    Parnaíba é uma cidade monarca  de grande. Demenhazinha se arvoroça  tanta gente na beira do rio qui parece inté furmiga aredor de lagartixa morta e quase tudo é trabaiadô caçando ganho. O mercado é outro dispotismo, se arreuni mais povo que na desobriga, quando o padre diz missa na capela dos Morros de dona Chinquinha. Aqui de tudo se vendo de tudo se faz dinheiro, fiquei besta de ver gente  comprando maxixe, quiabo, limão azedo, foia de Joaõ –Gome, e inté taiada de jerimum. O passadio daqui é bom. Todo dia como pãp da cidade com matega do reino.
Mamãe:
      As coisas daqui são deferente das daí. As casa são apregadas uma nas outas qui nem casa de marimbondo, e quase tudo de teia e atejolada e tem delas causadas e forradas de tapa pro riba, que nem ninho de xexéu que se chama sobrado. Gente rica aqui é de mazia. inda onte numa loja eu vi uma ruma de dinheiro de cobre que parecia juá quando se ajunta pro mode da á bode de chiqueiro.
Mamãe:
      A igreja daqui fazinté  sobroço de grande e arta, cabe dentro dela todos os moradô da barra das lages da fazenda Nova e se adquire lugar pra mais de cem vivente. O povo daqui tem uns custumes engraçados: num diz Ô DE CASA, não, quando chega nacasa alhei patê parma como q1uem estruma cachorro mode acuar tatu em buraco.
      Mamãe, aluz daqui é feita de um gazoma, nun percisa pavil nem trucida de argodão mode acender é só districer numa torneira como quem tira cachaça de ancoreita e riscar num fosque que sai luz  biatamente, tão quilara que faz gosto. Se o cristão não acendêr mais qui dipressa, espaia um  chero de cebola pôde danada, diz qui pru via de uma tal cauburente.
Mamãe:
      Aqui tem um jogo chamado biá que num hai quem intenda, mas porem só joga nele genti di famía. É arredo duma mesa grande, forrada com um pano como um bú de pregaria e o jôgador sigurando umas  varas, mode impurrá umas bolas qui é vêr o ovo de ema.  Quando tão jogando dê pro visto dois maedôr de farinha em forno de barro, ageitando os raodo mode não dismanchár os bejú. Aqui também tem uma latejo invisive chamado cinema. É só a musca tocar aparece umas figura de gente e de animá, tudo perfeito mesminho com se tivesse vivo e bulindo. O cinema é uma pano esticado como vela de embarcação é a cousa mais bonita que já vi na minha vida.
Mamãe:
    Cheguei onte de Tutóia, fui nas barcas da companhia Bussi mode trabaiá num vapor inguilêz ganhando dois mil rés pro dia e quatro pru noite. Na Tutóia a gente ve o mar até aonde le incosta  nas paredes do céu as barca sacode agente, chega dá dô de estambe e vontade de gumitar que nem aribú novo tudo pru, via do desaçocego do mar. O vapô  inguilêz é um paidégua e grande, maior que a vazante de fumo do cumpade Domingu e mais arto eu o pé de tamarino da porta lá de casa. Os porão de botá carga são tão fundo qui escurece  a vista  do cristão que ispia o pessoá  qui mora no vapô, são tudo branco ruzungá, oio azú e cabelo vremeio. A fala deles não ai quem intenda, é impruiada como a de periquito em rosa de mio novo. São danado pru papagaio e pru cachaça dão inté roupa de gazemira por um papagaio ou por uma garrafa de giribita. Quanto uns inguilez fala ums cum os ôtro é uma trapaida direitinho a tia Damiana adizpois qui foi atacada da molesta do ar. Outra coisa ingraçada qui acho é os inguilez no vapor tudo se chama de piloto, mode coisa que os padre na terra deles não btiza ninguém de outro nome. Mamãe: Pru eu lher contar tudo direitinho não hai papê qui chegue. Vou acaba de lher escrevê pru que já me dói as buneca dos dedo de tando pagar na pena” Valeu?                   

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