domingo, 6 de janeiro de 2013

Alguns traços de memória de Teresina



Alguns traços de memória de Teresina




        As lembranças do passado são construídas através de fotografias, músicas, livros, revistas, entrevistas, o relato pessoal  de determinados sujeitos que vivenciaram o fato histórico. Esse acervo  material e oral formam a memória coletiva de uma sociedade.  É através desse material que construímos a história particular de cada época vivenciada por diferentes sujeitos em determinado local. Esse é um entendimento contemporâneo da história nos dias atuais.

        Partindo do conceito citado acima  a ideia desse texto surgiu de uma conversa com uma amiga, e após ver várias imagens de Teresina durante o ano de 2012 na internet, fotos que revelam a história da cidade nas décadas de 1960 á 1990. Neste momento, lembrei-me de alguns fatos vivenciados nesta Teresina provinciana e já se emancipando para modernidade, termo que custa caro para a história.

       Observando uma  foto da ponte Juscelino Kubitschek nos finais dos anos 70 percebi que naquele local onde hoje está localizado o Teresina shopping, ali existiam várias casinhas de taipa cobertas de palha, muitas mangueiras que durante a infância meus amigos chamavam de mangais, isso eu  ouvia muito de colegas que moravam no bairro Cabral, durante a minha adolescência. Neste local também havia algumas lagoas, um fato interessante aconteceu na década de 90, encontraram uma cobra gigante que foi reportagem de TV local.





     O lazer naqueles  tempos idos, se baseava em uma relação de amizade bem afetiva, era comum os amigos se reunirem para tomar banho no Rio Poty, naquela época havia muitas coroas, (isso é Piauiês) pequenas ilhas de areia que se formavam no meio e na margem do rio ou beira de rio como diz o piauiense. Essa era uma das diversões e lazer daquele período, além de outras peripécias de menino danado, como diz aqui em nosso Piauí.

     As festas se diferenciavam de acordo coma classe social, os mais abonados se divertiam nos clubes  que naquela época mostravam poderio e glamour. As pessoas mais simples e humildes divertiam-se em matinês e bailes na casa dos amigos para festejarem aniversários, casamentos, batizados ou inventavam bingos e depois dançavam, conversavam com os amigos  nesses encontros surgiam também os namoros.

     Essa era uma forma que a juventude da época inventava para se movimentar e sair da mesmice, porém tudo era divertido, porque ninguém ligava muito para elite, não havia apartheid social pois, interagíamos com pessoas simples e de melhor posição social. O Importante era a amizade, o nome de família era o que menos importava.

     Outra  diversão era atravessar a ponte no final de semana ou meio de semana, às vezes, para irmos buscar caju e manga na casa de alguns amigos e barões do jóckey. Naquele tempo as ruas do jóckey não eram asfaltadas era somente areia.

Dentre estas reminiscências não esqueço as tardes  de domingo na beira do rio Poty onde hoje é o Teresina shopping, ali saltavam vários paraquedas, essa era diversão dos domingos. Porém, um fato triste aconteceu com dois paraquedistas, ambos morreram. O primeiro foi Euclides Marinho, considerado um dos melhores do Piauí,  mêses depois faleceu Marcelo.

     Recordo-me ainda que o Estado do PI editava uma revista toda preta e branca, contendo alguns fatos históricos e culturais do Piauí. Todo esse material foi perdido na reforma da minha casa junto com os fanzines underground do final dos anos 80.

      Naqueles anos a prainha, na Avenida Maranhão,  em frente o centro administrativo, era o point do momento. Ali aconteceram muitos  eventos esportivos e culturais importantes, como os festivais de pipa organizado por equipes da Ônix Jeans e grupo Claudino. Na Área da cultura  um evento que se destacou foi a criação do Rock no velho monge, festival de rock que deu espaço para bandas novas de Teresina e de outros municípios e Estados, organizado pelo Walter ( negão) que era funcionário da UFPI, dentre outros caras que faziam a cena roqueira e a fumaça. Lembro-me um festival que assisti com Vênus, banda formada por Thyrso, Iko, Pincel e Kinha, uma das melhores bandas de metal do Brasil, naquela época, ainda tiveram inferno no céu de Parnaíba, banda que o Joelson tocava, muito boa e Gerude de São Luis, que fazia algo mais pop, nem existia esse termo por aqui naquela época, ou se fazia rock pesado mesmo, ou ficava no feijão com arroz. A Teresina daqueles anos, ainda nem ensaiava para o desenvolvimento dos dias de hoje mas oferecia muita diversão e lazer para a juventude sedenta de entretenimento. O  teatro era outro ponto de encontro da juventude que frequentava o velho 4 de setembro e o matadouro. Outro lugar onde  rolou alguns shows de rock  foi no Diocesano ( diga-se de passagem , um show lendário de Fator Rh e Flor do Opus ) e na  quadra da ETFPI, isso vai ficar para outro texto sobre o underground em Teresina.

      O cinema de destaque da época era  o cine Rex, que exibia filmes de Bruce Lee, Sexual Carnage( Sextrash da Banda do D,D Crazy,ex; Sarcófago). Outros filmes com grandes bilheterias e filas gigantescas eram  os produzidos pelos Trapalhões. No centro ainda havia o cine  o Royal e o cinema do Centro de Convenções. Depois surgiu na zona leste o Baloon Center que se tornou  também muito badalado.

      O que é importante frisar, é que éramos felizes  e vivíamos sem as novas tecnologias de hoje, porém éramos mais próximos uns dos outros. Toda a turma do barulho, isto é, os primeiros participantes do movimento roqueiro ou underground de Teresina, tinha encontro marcado na Praça Pedro II (conhecida como PII) na banca do Mariano para a troca de revistas, zines, informações sobre o rock ou o que acontecia na cidade; além de demo-tapes ( fitas k-7) com sons de bandas daqui e de fora que  trocávamos pelo correios.

      Outras lembranças inesquecíveis sobre a geração do rock em Teresina são as apresentações da banda Vênus, que aconteceu durante duas noites no teatro 4 de Setembro, além do Festival Setembro Rock no Verdão em 1986 e no Centro de Artesanato em 1987.

      Nessa época pela primeira vez em Teresina tocaram as bandas Chave do Sol de SP, Dever de Classe BA em 1986. Em 1987 a banda Viper, Vodu ambas de SP e Dorsal Atlântica do Rj. Logo após aconteceu outros shows como Megahertz, Avalon, Grito Absurdo, Demolidor, Farehneit e outras bandas que citarei em outro texto. Não podemos esquecer que esta juventude tinha muita criatividade e pouca grana. Contudo, além de curtirmos muito fizemos a história do rock em Teresina. Ainda virá muita coisa boa por aí, não posso esquecer outras pessoas importantes que contribuíram para todo esse movimento musical tais como: André Luiz, Edvaldo Nascimento e outros que pesquisarei em breve.



      A juventude roqueira era pequena mas, unida e  tinha muita vontade pra fazer tudo acontecer do jeito que desejávamos. Nos  tempos da feirinha na  praça Saraiva, dona Sulica era a apresentadora oficial dos shows, nesta época apresentou os shows das bandas vênus, mais tarde  Megahertz e Avalon que arrebentaram no salão de humor. Enquanto isso, nós na meladinha tomando cerveja e aproveitando o tira gosto no buraco do Toim, antigo bar de boêmios, intelectuais e roqueiros de Teresina que ficava na Praça Pedro II.

    Outro  fato inesquecível foi a chegada dos primeiros trios elétricos comandados por Armandinho e cia, visitando Teresina. Nesta ocasião haviam uns toneis enormes da prefeitura distribuindo cachaça ao povo, isso na  gestão de Heráclito Fortes.  Tempos de Banda Bandida no centro, as prévias carnavalescas, surgimento das primeiras discotecas Aquarius, Mobydick entre outras. Na zona leste o surgimento ..das primeiras boates  no Jockey Club e do Estádio Albertão lotando nos rivengos de Domingo a tarde. Não existia SKY, as pessoas valorizavam tanto os times como outras coisas daqui. Nesta época a alegria tomou conta dos piauienses pois o  Tiradentes foi um sucesso nacional no futebol. Nunca esqueço das manhãs de domingo quando  as pessoas em suas residências ficavam ouvindo Joel Silva, com piqueniques nos quintais,  ao som das radiolas tocando bregas melhores do que os de hoje. Tinha humor também na tarde de domingo ,antes de irmos ao Albertão  ouvíamos  o programa Um prego na chuteira com Deusdeth Nunes, O Garrincha, que tinha como parceria Maria do Buchão, sua esposa Regina.Isso são alguns relatos que depois continuaremos em alguns ensaios sobre Teresina e uns meninos terríveis que saiam de suas casas para irem aos shows e desapareciam por dois ou três dias, deixando sua famílias aflitas.              

Relato pessoal de Zenon Camelo Deolindo



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