sábado, 17 de novembro de 2012

O Folclore Piauiense



O Folclore Piauiense 


            Todos os povos possuem tradições, crendices, costumes e superstições tudo isso  é passado de uma geração a outra  através de lendas, contos e narrativas, provérbio e canções. Esses veículos de expressão popular são peculiares a cada sociedade, não havendo um autor. Além das fontes orais, existem as materiais e culturais que  se expressam através da fabricação de produtos manuais, artesanato, dança, costumes entre outros.  Folclore é o estudo dessas expressões populares. Tal palavra vem do inglês folklore e foi empregada pela primeira vez em 22-08-1846 por G.J. Thoms, arqueólogo de nacionalidade britânica. A tradução do vocábulo significa ciência do povo(folk-povo;lore-ciência).
          O folclore piauiense é riquíssimo trazendo uma influência dos povos que fizeram parte da nossa colonização. Sabemos que para a formação da nossa sociedade fizeram parte os índios, os portugueses, africanos e outros povos europeus.
      Todas as cidades do Piauí possuem uma história que relata o início de sua formação,  trazendo  um riquíssimo acervo cultural. O artigo que será  publicado neste momento é de autoria de uma grande amiga, que conheci assim que cheguei em Teresina. Uma mulher de grande sabedoria e uma  enorme coração. É uma grande historiadora dos costumes e tradições do nosso povo. O artigo descreve a fé do povo piauiense que faz deste meio um instrumento de luta para vencer as intempéries da vida.   
 

O Imaginário Teresinense e a Milagrosa Padroeira do Amparo 


          Falar sobre a  lenda impõe-nos indagações, como:  O que é lenda?Lenda e á narrativa fantástica sobre o conhecimento. Os fatos, as coisas e as figuras envolvidas pelas emoções crescem tanto no imaginário popular e se transformam  em algo miraculoso, fantástico.
A lenda é, portanto, uma emanação de poesia que surge do calor   da imaginação de uma povo envolvido pelas emoções.Indaga-se ainda: O que a lenda representa? Contendo ensinamentos morais, a lenda esta presente de maneira espontânea nas crenças, costumes e tradições de um povo. Podendo ser vista como fator de  integração, a lenda mantém ou modifica as estruturas e os valores  da comunidade a que pertence, porém, sem imposições ou cobranças externas. Portanto a lenda representa  a memória coletiva  de um povo, refletindo, assim, um passado cultural vivamente presente. Em Teresina as lendas surgiram com o alvorecer de sua história. Ricas em detalhes e qualidade, essas lendas vêm povoando o imaginário social deste povo. Representando diferentes momentos   do dia a dia dos teresinenses, há, para todas elas, uma explicação na razão de existir.
        Neste artigo toma-se como resgate, na construção da memória coletiva teresinense, a lenda da Milagrosa Padroeira do Amparo.  Segundo a lenda, tudo começou na tarde de natal de 1852,quando Nossa Senhora do Amparo deixou a capelinha da Vila do Poti e, em procissão, ao som de rezas e hinos sacros, rumou para a matriz da nova capital. Ao amanhecer do dia seguinte ,quando os devotos foram visitar a santa ,ela havia desaparecido como por encanto. Naquele momento os devotos saíram aflitos à procura da santa, indo  encontrá-la no nincho da Capela do Poti.Por várias vezes, reconduziram a imagem a Teresina com a mesma piedosa romaria. Porém  sempre com o mesmo resultado: Nossa Senhora voltava para a capelinha do Poti velho.
      O acontecimento foi se espalhando pela redondeza, dando origem a muita imaginação... muito pensar preocupante. O povo não podia contestar a milagrosa atitude da santa. Mas, também, não podia negar que era preciso vencer de uma vez  por todas a silenciosa a insistência da santa em permanecer no Poti Velho. 
      Certa manhã, o sacristão da igreja Matriz imaginou um plano que logo procurou pôr em prática: mandou construir um caixãozinho de imburana perfumada. Feito isso, o sacristão esperou uma noite de lua nova e, envolvendo a santa em alva toalha de linho bordada em labirinto, depositou-a carinhosamente no caixãozinho e ,colocando-o no fundo de uma canoa de pesca, a quatro remo ,seguiu para Teresina pelo caminho do rio Parnaíba .
      As águas movimentadas do  rio foram se aquietando lentamente E, quando a canoa conduzindo Nossa Senhora do Amparo atinge o Porto das cajazeiras, o céu estava coberto de estrelas cintilantes. O sacristão, emocionado, retira da canoa o caixote e com muito cuidado conduz a santa à matriz do Amparo. Lá chegando, leva-a até a capela mor da igreja, onde um nincho  ornamentado de flores perfumadas  e velas acesas esperava Nossa Senhora do Amparo. 
     O  plano surtiu o efeito desejado, pois a santa, desta vez não quis mais pensar em voltar para o Poti Velho. A partir daí, a antiga vila entrou  em decadência, pois a tristeza e o desânimo estavam presentes em todos os semelhantes. Os potienses  não queriam deixar suas terras, nem os túmulos de seus entes queridos. Mas, também, não queriam ficar sem a imagem de Nossa Senhora do Amparo. Com o passar do tempo, sentiram que a santa não estava mais pensando em voltar para junto deles...
     Foi assim que os potienses foram pouco a pouco deixando a vila e indo morar em Teresina, como que impulsionados por uma força miraculosa. E, à medida que aquela gente deixava a vila para morar na capital, a cidade ia crescendo...prosperando, enquanto a vila do Poti Velho caía no abandono.
     Elegendo-se a oralidade como documento e mantendo-se um diálogo com a lenda ora resgatada vê-se neste movimento, neste diálogo o encontro com o social, com o homem no seu cotidiano. Pois, envolvido com agudos dramas de sentimentos, numa luta conflitante consigo mesmo , o potiense tem de um lado o sentimento cívico de amor ao tovião Natal, e, do outro, os sentimentos de fé, de esperança, de obediência e de respeito a Maria Santíssima, a mãe de Jesus, representada naquele momento pela imagem de Nossa Senhora do Amparo, em quem confia plenamente e a quem queria dizer AMÉM. 
     Pela situação efetivamente narrada ,a lenda se identifica com o momento histórico da transferência da capital do Piauí, de Oeiras para Teresina. Ali, parte dos habitantes da Vila do Poti já formava o maior contingente da população da cidade. Atraídos pela ideia de progresso desde 1850 transferiram-se para o novo espaço. Porém, aqueles que haviam permanecido naquela vila precisaram que algo mais forte que a idea de progresso  lhes tocasse o coração. Foi assim que o povo não relutou mas, pois  só havia uma coisa afazer: Ficar perto da mãe de Deus, rezando o terço, fazendo novena, pagando promessa e acompanhando procissão. Porque é assim, cheio de esperança e de fé que o povo encontra a força necessária para o enfrentamento da vida cotidiana.  

Artigo da historiadora Maria Cecília Silva de Almeida Nunes.
 
Notas
1.       CÂMARA CASCUDO. Luís da. Dicionário do folclore Brasileiro. Ediouro, 1972; ALMEIDA, Renato. Vivência e Projeção do Folclore. Agir Editora. Rio de Janeiro, 1971; LEITE FILHO, Aleixo. Noções de Folclore. Pernambuco,1994.
2.       NUNES, Maria Cecília Silva de Almeida. Lendas Piauienses.IN: O Piauí e a cultura Popular. Comissão Piauiense de Folclore. Fundação  Cultural do Piauí,1993.pp,21-23
3.       ________.O Imaginário Religioso ea criação de Teresina. IN: Cadernos de Teresina Ano IX, N°20,agosto, 1995.
4.       A imagem de Nossa Senhora do Amparo chegou ao Piauí em fevereiro de 1852, vinda de Portugal. Naquele mesmo ano, foi levada para a capelinha do Poti Velho, ficando lá até o Natal de 1852, quando em procissão, foi transladada para a capela-mor da Igreja  Matriz de Teresina. Ver Monsenhor Chaves, Teresina: Subsídios para a História do Piauí. P 83.
Porto das Cajazeiras,  também  conhecido como Porto do Coqueiro, situava-se na

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