Homenagem ao Centenário de Vinicius de Moraes
Para homenagear o centenário de Vinicius de Morais
destacamos aqui alguns sonetos do autor. Sonetos que foram publicados pela
primeira vez em 1967, foram escritos ao longo
de 30anos, a partir da década de 1930. “Os sonetos eram, para Vinicius de
Morais, uma via de acesso ao sublime, mesmo quando essa elevação se processava
através da linguagem prosaica do cotidiano aparentemente banal”.
Soneto de separação
De repente do riso fez o pranto
Silencioso e branco
como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste p que se fez a amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez do amigo próximo o distante
Fez da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Oceano Atlântico, abordo do Higblanda Patriot, a caminho da
Inglaterra, Setembro de 1938.
Soneto de contrição
Eu te amo, Maria, te amo tanto
Que o meu peito me dói como em doença
E quanto mais me seja a dor intensa
Mais cresce na minha alma teu encanto.
Como a criança que vagueia o canto
Ante o mistério da amplidão suspensa
Meu coração é um vago de acalanto
Berçando versos de saudade imensa.
Não é maior o coração que a alma
Nem melhor a presença que a saudade
Só te amar é divino, e sentir calma...
E é uma calma tão feita de humildade
Que tão mais te soubesse pertencida
Menos seria eterno em tua vida.
Rio de Janeiro, 1938.
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