O Folclore Piauiense
Todos os povos possuem tradições, crendices, costumes e
superstições tudo isso é passado de uma
geração a outra através de lendas,
contos e narrativas, provérbio e canções. Esses veículos de expressão popular
são peculiares a cada sociedade, não havendo um autor. Além das fontes orais,
existem as materiais e culturais que se
expressam através da fabricação de produtos manuais, artesanato, dança,
costumes entre outros. Folclore é o
estudo dessas expressões populares. Tal palavra vem do inglês folklore e foi
empregada pela primeira vez em 22-08-1846 por G.J. Thoms, arqueólogo de nacionalidade
britânica. A tradução do vocábulo significa ciência do
povo(folk-povo;lore-ciência).
O folclore piauiense é riquíssimo trazendo uma influência
dos povos que fizeram parte da nossa colonização. Sabemos que para a formação
da nossa sociedade fizeram parte os índios, os portugueses, africanos e outros
povos europeus.
Todas as cidades do Piauí possuem uma história que relata o
início de sua formação, trazendo um riquíssimo acervo cultural. O artigo que será publicado neste momento é de autoria de uma
grande amiga, que conheci assim que cheguei em Teresina. Uma mulher de grande
sabedoria e uma enorme coração. É uma
grande historiadora dos costumes e tradições do nosso povo. O artigo descreve a
fé do povo piauiense que faz deste meio um instrumento de luta para vencer as
intempéries da vida.
O Imaginário Teresinense e a Milagrosa Padroeira do Amparo
Falar sobre a lenda
impõe-nos indagações, como: O que é
lenda?Lenda e á narrativa fantástica sobre o conhecimento. Os
fatos, as coisas e as figuras envolvidas pelas emoções crescem tanto no imaginário
popular e se transformam em algo
miraculoso, fantástico.
A lenda é, portanto, uma emanação de poesia que surge do
calor da imaginação de uma povo
envolvido pelas emoções.Indaga-se ainda: O que a lenda representa? Contendo
ensinamentos morais, a lenda esta presente de maneira espontânea nas crenças,
costumes e tradições de um povo. Podendo ser vista como fator de integração, a lenda mantém ou modifica as
estruturas e os valores da comunidade a que
pertence, porém, sem imposições ou cobranças externas. Portanto a lenda
representa a memória coletiva de um povo, refletindo, assim, um passado
cultural vivamente presente. Em Teresina as lendas surgiram com o alvorecer de
sua história. Ricas em detalhes e qualidade, essas lendas vêm povoando o
imaginário social deste povo. Representando diferentes momentos do dia
a dia dos teresinenses, há, para todas elas, uma explicação na razão de
existir.
Neste artigo toma-se como resgate, na construção da memória
coletiva teresinense, a lenda da Milagrosa Padroeira do Amparo. Segundo a lenda, tudo começou na tarde de natal de 1852,quando
Nossa Senhora do Amparo deixou a capelinha da Vila do Poti e, em procissão, ao
som de rezas e hinos sacros, rumou para a matriz da nova capital. Ao amanhecer
do dia seguinte ,quando os devotos foram visitar a santa ,ela havia
desaparecido como por encanto. Naquele momento os devotos saíram aflitos à
procura da santa, indo encontrá-la no
nincho da Capela do Poti.Por várias vezes, reconduziram a imagem a Teresina com a
mesma piedosa romaria. Porém sempre com
o mesmo resultado: Nossa Senhora voltava para a capelinha do Poti velho.
O acontecimento foi se espalhando pela redondeza, dando
origem a muita imaginação... muito pensar preocupante. O povo não podia
contestar a milagrosa atitude da santa. Mas, também, não podia negar que era
preciso vencer de uma vez por todas a
silenciosa a insistência da santa em permanecer no Poti Velho.
Certa manhã, o
sacristão da igreja Matriz imaginou um plano que logo procurou pôr em prática:
mandou construir um caixãozinho de imburana perfumada. Feito isso, o sacristão
esperou uma noite de lua nova e, envolvendo a santa em alva toalha de linho
bordada em labirinto, depositou-a carinhosamente no caixãozinho e ,colocando-o
no fundo de uma canoa de pesca, a quatro remo ,seguiu para Teresina pelo
caminho do rio Parnaíba .
As águas movimentadas do rio foram se aquietando lentamente E, quando
a canoa conduzindo Nossa Senhora do Amparo atinge o Porto das cajazeiras, o céu
estava coberto de estrelas cintilantes. O sacristão, emocionado, retira da
canoa o caixote e com muito cuidado conduz a santa à matriz do Amparo. Lá
chegando, leva-a até a capela mor da igreja, onde um nincho ornamentado de flores perfumadas e velas acesas esperava Nossa Senhora do Amparo.
O plano surtiu o efeito desejado, pois a
santa, desta vez não quis mais pensar em voltar para o Poti Velho. A partir
daí, a antiga vila entrou em decadência,
pois a tristeza e o desânimo estavam presentes em todos os semelhantes. Os
potienses não queriam deixar suas
terras, nem os túmulos de seus entes queridos. Mas, também, não queriam ficar
sem a imagem de Nossa Senhora do Amparo. Com o passar do tempo, sentiram que a
santa não estava mais pensando em voltar para junto deles...
Foi assim que os potienses foram pouco a pouco deixando a
vila e indo morar em Teresina, como que impulsionados por uma força miraculosa.
E, à medida que aquela gente deixava a vila para morar na capital, a cidade ia
crescendo...prosperando, enquanto a vila do Poti Velho caía no abandono.
Elegendo-se a oralidade como documento e mantendo-se um
diálogo com a lenda ora resgatada vê-se neste movimento, neste diálogo o
encontro com o social, com o homem no seu cotidiano. Pois, envolvido com agudos
dramas de sentimentos, numa luta conflitante consigo mesmo , o potiense tem de
um lado o sentimento cívico de amor ao tovião Natal, e, do outro, os
sentimentos de fé, de esperança, de obediência e de respeito a Maria
Santíssima, a mãe de Jesus, representada naquele momento pela imagem de Nossa
Senhora do Amparo, em quem confia plenamente e a quem queria dizer AMÉM.
Pela
situação efetivamente narrada ,a lenda se identifica com o momento histórico da
transferência da capital do Piauí, de Oeiras para Teresina. Ali, parte dos
habitantes da Vila do Poti já formava o maior contingente da população da
cidade. Atraídos pela ideia de progresso desde 1850 transferiram-se para o novo
espaço. Porém, aqueles que haviam permanecido naquela vila precisaram que algo
mais forte que a idea de progresso lhes
tocasse o coração. Foi assim que o povo não relutou mas, pois só havia uma coisa afazer: Ficar perto da mãe
de Deus, rezando o terço, fazendo novena, pagando promessa e acompanhando
procissão. Porque é assim, cheio de esperança e de fé que o povo encontra a
força necessária para o enfrentamento da vida cotidiana.
Artigo da historiadora Maria Cecília Silva de Almeida Nunes.
Notas
1.
CÂMARA CASCUDO. Luís da. Dicionário do folclore
Brasileiro. Ediouro, 1972; ALMEIDA, Renato. Vivência e Projeção do Folclore.
Agir Editora. Rio de Janeiro, 1971; LEITE FILHO, Aleixo. Noções de Folclore.
Pernambuco,1994.
2.
NUNES, Maria Cecília Silva de Almeida. Lendas
Piauienses.IN: O Piauí e a cultura Popular. Comissão Piauiense de Folclore. Fundação
Cultural do Piauí,1993.pp,21-23
3.
________.O Imaginário Religioso ea criação de
Teresina. IN: Cadernos de Teresina Ano IX, N°20,agosto, 1995.
4.
A imagem de Nossa Senhora do Amparo chegou ao
Piauí em fevereiro de 1852, vinda de Portugal. Naquele mesmo ano, foi levada
para a capelinha do Poti Velho, ficando lá até o Natal de 1852, quando em
procissão, foi transladada para a capela-mor da Igreja Matriz de Teresina. Ver Monsenhor Chaves,
Teresina: Subsídios para a História do Piauí. P 83.
Porto das Cajazeiras, também conhecido como Porto do Coqueiro, situava-se
na
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