O texto de hoje fala sobre a história dos Cangaceiros,
homens que aterrorizaram o nordeste no final do séc. XVIII e início d séc. XX,
apresentamos ao lado o mapa que mostra a rota do cangaço.
Os cangaceiros
Os cangaceiros foram homens do sertão que cansados da vida
dura, da opressão do coronel e do governo, viveram á margem da lei, fazendo
as sua próprias leis- a lei do cangaço.
Originalmente eram sertanejos e vaqueiros e jagunços do coronel, mas por
alguma insatisfação particular e pelo
espírito de aventura se debandaram pro cangaço. Viver no cangaço, portanto
significa ser o senhor de si mesmo e pegar tudo
que quer.
Eles viveram de modo semelhante aos piratas, pois não tinham
senhores. Como os piratas os cangaceiros pilhavam, sequestravam, extorquiam,
matavam e vendiam seus serviços a quem oferecesse um bom preço.
A palavra Cangaço vem da palavra ganga, que era uma peça de
madeira colocada sobre o pescoço dos bois de carga. Nas regiões Nordeste,
Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, havia as rotas do gado, para alimentar os grandes
centros urbanos da época. Nesses caminhos traiçoeiros havia homens que tomava,
de assalto os tropeiros. Estes homens levavam tudo o que podiam. O gado e os
pertences de suas vítimas. Estes bandidos passaram a ser chamados de
cangaceiros por levarem, assim como os bois, seus pertences nos seus ombros. No Nordeste o
Cangaço se fortaleceu devido maior ausência do Estado.
Os homens do cangaço foram apresentados como heróis no
imaginário popular, devido os repentistas, cordelistas e declamadores. Alguns
deles realmente foram heróis como o caso do sete orelhas (Januário Garcia Leal)
que agiu na região sudeste e Antônio Silvino que agiu na região Nordeste. Mas
essa não é toda a verdade. Por exemplo, Lampião e todo o seu bando cercaram a
cidade de Mossoró em 13 de junho de 1927. Esta cidade ofereceu resistência e
repeliu a investida de Lampião e seus cangaceiros. Inclusive, até hoje é
comemorada naquela cidade a resistência do povo mossoroense.
O cangaço teve suas origens no século XVIII, com o José Gomes,
conhecido Cabeleira. Outros homens seguiram seu mesmo caminho e o que teve
maior fama até os dias atuais foi Lampião.
Depois de elucidar algumas considerações sobre o cangaço,
quero falar das táticas que estes homens empreendiam. Pra começar os
cangaceiros usavam táticas de guerrilha. De certo modo, eles eram guerrilheiros
.Pois não era uma tropa organizada e embora existisse alguma hierarquia de
comando, um cangaceiro dificilmente comandava um bando por muito tempo. Um caso
particular foi de Lampião, que aceitou a ideia de Maria Bonita em criar
uniformes pro seu bando. Criando uma relação de fidelidade entre lampião e seus
homens.
Os cangaceiros eram bons atiradores, portanto não atiravam
para errar. Devido ter pouca munição. Na primeira metade do século XX, usavam
espingardas, saboneteira (uma espécie de punhal longo),revolveres e pistolas. Diferente
do imaginário popular, não tinham cavalos. Se lembrem que os cangaceiros
carregavam seus pertences carregados no corpo. Como era complicado conseguir
água na caatinga, ter um cavalo ou outro animal de carga significava ter
problemas com a água, além de denunciar para os capatazes e os policiais o rumo
de seus acampamentos. Inclusive Lampião teve a astúcia de colocar nos calçados
solas ao contrário para enganar os seus perseguidores..
Se suas vítimas ofereciam resistência perigosa demais, os
cangaceiros se debandavam para lutar
outro dia. Exceto os sequestrados, dificilmente faziam prisioneiros, para não dificultar a fuga do bando.
Os cangaceiros eram sofisticados. Antes de atacar um
povoado, fazenda ou cidade, mandavam um espião, o coiteiro. Que vinha bem
trajado ou com as vestimentas dos moradores para não chamar a atenção. O
coiteiro analisava a segurança do local, os pontos fracos de defesa e dias mais tarde ele avisava tudo para o
chefe do bando.
Os cangaceiros atacavam de noite os acampamentos de tropeiros
ou comerciantes que traziam da capital as mercadorias tão esperadas pelos
sertanejos. De dia tomavam de assalto povoados isolados. Comiam o que queriam, desvirginavam
as moças e abusavam das mulheres. Ai do morador do vilarejo que se opusesse. A
melhor sorte que tinha era receber um corte na testa em forma de cruz para
servir de exemplo. As mulheres eram marcadas que nem gado.
No imaginário nordestino, Lampião recebia ordens de padre
Cícero, outra inverdade. Padre Cícero recebeu Lampião e seu bando em Juazeiro. O
sacerdote deu conselhos ao Lampião de abandonar o cangaço, mas o cangaceiro não
quis. Lampião em seguida, aprisionou o único funcionário do governo federal na
cidade, Raimundo Uchôa, que assinou um pacto entre o Lampião e o governo
federal contra a coluna Prestes. Lampião recebeu patente de capitão, armas e
suprimentos, mas não cumpriu com sua parte do trato. Tempos depois pagaria caro
por isso.
O cangaço acabou na época do Estado Novo. Getúlio Vargas
após vencer os paulistas e se consolidar no governo geral, decidiu esmagar qualquer ameaça a seu poder. A coluna
Prestes e também os cangaceiros representavam uma ameaça. No dia 27 de julho de
1938 na localidade Angicos, estado de Sergipe, Lampião e seu bando foram pegos em tocaia. Ironia do
destino, que uma tática tão empreendida por eles foi usada contra os mesmos.
Ainda que Corisco e alguns cangaceiros do bando de Lampião conseguiram escapar
e ofereceram alguma resistência, o cangaço teve os seus dias contados.
Texto: Francisco Wagno Sotero da Costa. Revista DeRepénte.
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